domingo, 24 de maio de 2009

O demônio do meio dia

Nessa época de semi-automação, quando não apenas os militares, mas os operários tem pouco a fazer além de prestar atenção constante a instrumentos, o problema do comportamento humano em situações monótonas se tornou agudo. Em 1951, o psicólogo Donald O. Hebb, da Universidade McGill, recebeu uma doação do conselho de pesquisa em Defesa do Canadá para realizar um estudo sistemático. Hebb connstatou que a exposição prolongada a um ambiente monótono tem definitivamente efeitos nocivos. O pensamento do indivíduo é comprometido, ele apresenta respostas emocionais infantis, sua percepção visual se torna distorcida e seu padrão de ondas cerebrais é modificado.

- Revista Scientific American, Janeiro de 1957

Mafalda de Quino

Mafalda de Quino

Na modernidade o tédio (monotonia que pode converter-se em apatia, letargia, inércia e indiferença) é cada vez mais comum. A vida diária torna-se maçante e voltar a labuta após um final de semana pode ser massacrante. Para o falecido guru espiritual, Osho, o tédio (uma capacidade unicamente humana, os animais não podem sentir tédio, e portanto também não podem atingir o nirvana) é o polo oposto da iluminação. O tédio é a primeira indicação de que uma grande compreensão está surgindo em você, sobre a futilidade, a insignificância, da vida e de seus caminhos”. A maioria das pessoas foge do tédio buscando distrações: Você liga a TV, fica horas na internet, lê, procura alguém com quem conversar, busca o sexo, a bebida, a esbórnia. Tudo para não encarar de frente o oco, o vazio natural do ser humano. O que não sabemos é que o ser humano adapta-se rapidamente a qualquer coisa, mesmo que sua vida seja repleta de acontecimentos, em um momento você se acostamará e o tédio fatalmente aparecerá. Nos entediamos com o trabalho, com as pessoas queridas e até com a nossa própria voz e pensamentos.

Bertrand Russel foi um filósofo que viveu entre 1872 e 1970, disse “Uma geração que não consegue suportar o tédio será uma geração de homens menores”.

O que fazer então para lidar com isso? Não fomos ensinados pela escola, pelos pais e talvez nem pela nossa própria religião a lidar com isso. O tédio é um sinal de que a nossa alma está pobre ou mal alimentada, e não conhecemos nada a respeito de nós mesmos para tomar uma atitude eficiente. Talvez a atitude mais acertada seja: Não fazer nada, ficar em silêncio, ter paciência. Não agir é uma arte que foi soterrada pela necessidade de urgência, pelo bombardeio midiático constante, pela necessidade atroz de nos mantermos bem informados, de nos mantermos ativos. Não fazer nada é uma arte nos dias de hoje.

Não é a internet, a televisão, o papo furado, o sexo, as festas, a bebedeira que vão extinguir seu tédio. O tédio, na adolescência, por exemplo, é uma passagem necessária. Os pré adolescentes sentem-se apáticos e distanciam-se de tudo. Não sentem mais graça no que faziam antes. Com isso distanciam-se de seus interesses infantis e amadurecem para novas coisas.

O tédio da modernidade é perceber a passagem do tempo quando gostamos de ver a vida voar. Da próxima vez que sentir tédio, entenda como uma oportunidade de agarrar o tempo, de exercitar a paciência de parar de rodar como um tonto.

(By: Culatra)

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